quinta-feira, 29 de novembro de 2007


POEMA DE VERDADE


Vazio num espaço sem respostas
pra pergunta que não se cala
Sou como a raiz de uma árvore
se aprofunda quanto mais, a cada folha que cai
Sou o futuro projetado em preto e branco
Expressionista
Minha seiva se espalha sobre o caule

Sou aquele feno que se queimou com o calor dos tempos,
Aquele cuja batina cobriu a vergonha
E a penitência foi viver
Os rastros deixados pela alma que me aliciou
Alimenta os vermes que me roem aos poucos

E a estrada é a mesma
Meus pés continuam cortados, calosos, cansados
... e meu corpo carrega meu espírito
As mesmas máquinas sopram a todo vapor
E o vapor regressa com o dinheiro do tráfico

Eis meu estupro intelectual
Aquele que não goza
E que sofrerá a gestação de uma vida inteira
Não sou um anjo torto desses que vivem na sombra
Estou mais para esse ao seu lado
Que vive escondido atrás dos óculos e do bigode.
Sou aquele que tem poucos raros amigos
Aquele que se mistura às pernas brancas pretas amarelas

Não recordo minhas faces
Apenas escorro meu tempo
Frutifico minha fecundação
E sofro uma gestação da minha vida inteira